Getter Robo : O Be-a-ba dos super robôs

Postado por Pedro Henrique Leal 6 de nov. de 2009


Em resposta à morte de vários cientistas, o professor Saotome acelera o processo de produção de sua maior invenção, alheio às consequências da ativação do seu "Getter Robo".

No clássico título de Go Nagai e Ken Ishikawa, é possível delinear as mudanças no genero de "super robô" nos quadrinhos e na animação japonesa. Enquanto o Getter Robo original definiu várias das normas do genêro, e seguiu a maioria das pré existentes, os seus sucessores, Getter Robo Go, Shin Getter Robo, e Getter Robo Äh subvertem ou ignoram vários desses clichês. Getter também foi a primeira série a envolver um grupo de veículos que se juntavam para formar o robô, no caso três aviões que podiam formar três robôs diferentes; Getter-1 para combates aéreos, armado com machados e um poderoso raio; Getter-2 para batalhas em terra e escavações, com uma grande furadeira, que podia ser lançada como um míssil; e Getter-3, para operações submarinas, com metralhadoras e foguetes.

Apesar de Go Nagai ter se desligado de Getter Robo no ínicio da série, e mesmo antes disso, ter sido apenas responsável por conceitualizar o trabalho, Getter é marcado pela violência típica dos trabalhos de Nagai, somente no primeiro volume, temos um homem tendo as orelhas amputadas, a pele do rosto de outro arrancada à unha, cães sendo decapitados, e vários homens sendo queimados vivos. Além dessa violência explicita, a trama não evita a menção de eventos atrozes, as vezes causados pelos "heróis".
O traço de Ishikawa é rude, com linhas fortes, e não se respeita muito o uso de modelos para os personagens. A maioria dos personagens são francamente feios, e quanto mais o traço de se tornou próprio de Ishikawa, mais as pessoas em Getter ficaram estranhamente "bombadas". O forte de Ishikawa são os monstros e as máquinas, não as pessoas; enquanto os seus personagens são feios e um tanto disformes, os seus robôs são ricamente detalhados, apesar de sofrerem dos mesmos problemas de mudança de proporção que os humanos.

Quanto a trama, ela é simples, e antes de Getter Robo Go, extremamente pobre. A milhões de anos a Terra era dominada pelo império reptilianóide, dinossauros super inteligentes, que foram forçados a fugir para o subsolo após serem bombardeados por uma misteriosa radiação vinda do espaço. Após a queda dos répteis, veio o império dos 100 demônios, derrubado pela mesma radiação enigmática... Milênios após a queda do império dos 100 demônios, um grupo de cientistas, liderado pelo professor Saotome, começa a estudar os misteriosos raios getter, e constróem uma série de dispositivos movidos pelos raios Getter, eliminando o excesso de energia da atmosfera, permitindo que o império reptilianóide e o império dos 100 demônios voltem, e eles estão furiosos... Para lidar com essa ameaça, Saotome constrói o Getter Robo, e junta vários pilotos para usar a terrivel máquina, antes que a humanidade seja destruída...


Parece familiar? É porque essa é a trama básica de quase toda série de super robôs, ou de super esquadrão. O que faz com que Getter seja diferente é a equipe que Saotome reúne, e o rumo que a trama toma adiante. Se em outras séries antigas os heróis eram escolhidos por suas virtudes, aqui eles são escolhidos por serem "fodões". A equipe original é formada por Nagare Ryoma, artista marcial, "recrutado" a força pouco depois de se vingar dos homens que levaram seu pai ao suícidio, Ryoma se mantém pilotando o Getter porque "isso me dá desculpa para bater nas coisas"; Jin Hayato, estudante super dotado, lider de um movimento terrorista, incapaz de ver as outras pessoas como algo além de peões para serem usados, e dado a ataques de sadismo pertubadores; e Tomoe Musashi, lutador de judô, incansável, atrapalhado, alívio cômico, Musashi é o único membro da formação original que pode ser chamado de herói, sua entrada para o Getter Team ocorre por que "lutar com os lagartos é a coisa certa". Essa equipe de desajustados, liderados por um homem que é incapaz de chorar a morte do próprio filho se torna heróica com o tempo, mas o início sombrio por si só já destaca Getter Robo dos outros super robôs.

As edições posteriores mostram o próprio Getter como sendo algo não tão admirável quanto se pensa. Ao longo da série, os raios Getter se mostram como sendo a fonte de toda a evolução, além de serem dotados de vontade própria, uma consciência altamente imoral, que escolheu a humanidade e o Getter Robo como sendo o "ser perfeito", e cuja presença lentamente erode a sanidade do Getter Team. A cada nova versão do Getter Robo desenvolvida pelo instituto Saotome, mais ele se mostra como uma ameaça maior do que os seus inimigos; enquanto o Getter original era tão perigoso quanto qualquer robo de Power Rangers, o terceiro Getter, Shin Getter, destrói centenas de quilometros quadrados do Japão durante um de seus primeiros combates, e o seu futuro guarda algo ainda pior. Os vilões do último título de Getter, Getter Robo Äh, assim como os vilões de Shin Getter Robo, vêm do futuro, onde o Getter Emperor, forma final do Shin Getter, destruíu boa parte da vida no universo.

Para quem gosta de robôs gigantes, e quer ver um mangá onde as mudanças de estilo no genêro podem ser vistas dentro de uma mesma trama, Getter é uma boa jogada, se estiver disposto a aguentar a simplicidade de roteiro e o traço feio. Getter é o Super Robô básico, junto com seu "primo", Mazinger, do qual eu ainda irei falar.

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