O mais recente título da Catalyst Game Labs, Eclipse Phase, traz uma excelente inovação ao mercado de RPG: é o primeiro título de RPG a ter a licensa Creative Commons, autorizando a distribuição gratuita do material. Em outras palavras: Podem baixar a vontade, o material foi liberado. O título se refere ao estágio da infecção viral onde a célula não aparenta estar infectada, mas o vírus já está dentro dela.
Como todos os títulos recentes da Catalyst, Eclipse Phase prima pela qualidade do livro em si; A direção de arte de Mike Vaillancourt, que parece ter virado a marca da empresa tem uma das suas melhores manifestações no tomo de 400 páginas à cores. Mesmo em Pdf, a qualidade das ilustrações não se perde; mesmo para quem não tem interesse por RPGs de Ficção Científica, Eclipse Phase é um dos mais belos livros de RPG do ano. Infelizmente, nem todas as ilustrações estão onde deveriam estar; várias "criaturas" estranhas carecem de ilustrações, enquanto "humanos" normais são fartamente cobertos pela arte do livro.
Eclipse Phase é claramente inspirado pelas teorias Trans-humanistas e Pós-Humanistas de Anders Sandberg. Ao invés das clássicas civilizações alienígenas e confederações ou impérios interestelares, Eclipse Phase mostra um futuro onde os limites do que é "Humano" estão esticadas ao máximo. De corpos "naturais" até enxames de nanomáquinas, passando por animais superinteligentes, a "humanidade" de Eclipse Phase é irreconhecível. Alcança-se a vida "eterna" pela digitalização do ego: a mente é preservada na "máquina", podendo ser transferida para um novo corpo, conforme o desejado.
Como não se trata só de um jogo de FC, mas também um jogo de horror, as coisas não são tão simples. Apesar da "imortalidade" do Ego, o corpo, e em alguns casos os "backups" da mente estão ameaçados pelo misterioso virus Exsurgent, e a Terra encontra-se abandona após a revolta dos TITANs, Inteligências artificiais criadas a séculos, cujas armas ainda vagam pelo planeta, caçando todos aqueles que sejam tolos a ponto de voltar a Terra-mãe.
As regras são simples no quesito resolução: soma se a aptidão com uma perícia, joga-se um d100, e se compara o resultado; resultados menores que a soma são sucessos, e maiores são falhas, como em quase todos os sistemas baseados em d100. É na criação e na customização de personagens que Eclipse Phase se destaca: As aptidões e perícias dos personagens são determinadas por sua origem, por sua facção e pelo tipo de corpo; o último pode ser trocado a vontade, embora a mudança de corpo envolva gastos financeiros por parte do personagem, e  encorra em certos riscos, como não se adaptar corretamente ao novo corpo.
Entre exemplos de origem, temos "Hiper-elite", "Colono Lunar", e as três mais interessantes, "Uplift", animais aprimorados para terem inteligência humana, "Perdido", membros da "geração perdida", basicamente, super soldados que não deram certo, e "Re-Instatado", um "sobrevivente" da queda da Terra... Em um corpo novo.
Quanto as facções, os destaques vão para os Barsoonians, a classe baixa das colônias de marte, vistos pelo resto do sistema solar como sendo "caipiras", os Mercurials, que não tem o menor interesse em preservar a sua humanidade, ou sequer aparentar isso; corpos robóticos ou vida digital é comum entre eles. E os Jovians, essencialmente o oposto dos Mercurials, os colonos de Júpiter que buscam preservar a humanidade "verdadeira" não importa o custo.


Os corpos são a parte mais única de Eclipse Phase: além de inúmeras variedades do corpo humano (do Flat, um corpo natural, sem aperfeiçoamentos, até o Remade, o humano 2.0, melhor em todos os aspectos.), existem vários corpos no livro básico para interesses mais estranhos, como o Nova Crab (um caranguejo gigante, ou melhor, um caranguejo inimigo gigante) e o Nanoswarm (um enxame de nanorôbos), além de corpós robóticos mais comuns, ou uma aranha robótica. Outra possibilidade é o Infomorph, que é basicamente viver como um programa.
Outra mecânica interessante são os backups do Ego e o "Ego-Casting". Através de backups de personalidade, é possivel "salvar o jogo"; caso algo aconteça, é só colocar o backup em um corpo novo, e reaprender algumas coisas. Já Ego-Casting é a viagem quase instantanea entre colônias, naves e habitats, transferindo a mente para um corpo a espera no destino.
Devido a troca de corpos, os valores das perícias e das aptidões podem mudar com uma frequência alarmante; isso pode ser confuso, e vai resultar em muitas cópias da mesma ficha de personagem. A presença de dois valores para as aptidões também pode ser confuso, dado que o os valores do corpo devem ser somados aos do ego, mas a ficha não deixa isso claro.
O pdf pode ser fácilmente encontrado gratuitamente, e quem acha que os autores merecem seu dinheiro podem compra-lo por em torno de 15 dólares; o livro impresso saí por 50 dólares.

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